ESTOU REPASSANDO
RECEBI DE UMA AMIGA:
Paulo de
Faria Pinho
Prezado Senhor Presidente, hoje eu li uma
declaração do senhor eu leio
tudo que o
senhor fala porque o
senhor é o meu guru. Afinal o senhor e
eu falamos muito parecido. Nós dois estudamos português com o grande
filólogo
Ibrahim Sued eu gostava do Turco, era gente
boa, parecido com
nós, ele também não era muito chegado a usar o tal do esse no final
das frases afinal eu acho uma grande
estupidez esse (agora
é pronome) negócio do objeto concordar com o sujeito. São duas coisas
completamente diferentes. Objeto é coisa, tipo mala, cueca, dólar,
dinheiro,
mesada, sei lá, tem muita coisa que é objeto; já sujeito é gente,
como o seu filho, gente mais do que legal o seu filhinho, bom de
negócio, tem
futuro o menino, valeu mesmo apostarem nele; gente é o José Genoíno,
fantástico
orador, como é bem articulado o seu companheiro, mal comparando, até faz
lembrar
o falecido Carlos Lacerda. Cara mais do que maneiro o Genoíno, um pouco
ingênuo, fica assinando uns papéis sem ler antes, mas isso acontece com
muita
gente, o Senhor não precisa se preocupar; gente é o carequinha Marcos
Valério, tremendo criador de bois, vacas, cavalos
e
outro bichos. Por falar em bicho, e o Waldomiro? Por onde anda? Ele era
assessor do seu amigo José Dirceu, esse também é gente, logo sujeito,
sujeito
de duas caras, é verdade, mas o Senhor sabe como é fazer plástica,
parece que
muda muito o sujeito. Eu nunca fiz porque sou duro, mas acho que estou
precisando dar uma recauchutada. Mas se um dia fizer, quero fazer com o
mesmo
médico que operou o Zé Dirceu, médico bom tal aí, mudou a cara e o
caráter do
sujeito de uma só vez. Gostei muito! E tem muita mais gente, como o Luiz
Gushiken, empresário desastrado, foi só deixar a empresa com os
cunhados,
assumir o ministério e as empresas começaram a dar um lucro do tamanho
de um
bonde, mas o Senhor também não precisa se preocupar porque como dizia o
rei das
favelas, o falecido engenheiro sem
diploma Leonel Brizola, cunhado não é
parente... E tem
mais gente, como o tesoureiro Delúbio Soares, dizem que na outra
encarnação ele
trabalhou com um tal do Alí Babá. O Alí parece que dispensou os outros
quarenta! Pois é, voltando ao que o Senhor falou que o Brasil não merece
o que
estão fazendo com ele, eu confesso que apesar de ser um profundo
admirador do
seu raciocínio sempre claro, dessa vez não entendi nada. Quem está
fazendo uma
sujeira que não tem mais nome - nome tem, só que não dá para escrever em
um
jornal de respeito, é exatamente o seu partido e toda essa gente que eu
fui
citando nessas mais do que mal traçadas linhas. E quando eu tentava com a
minha
pouca inteligência entender o que o Senhor queria dizer, vi que ao lado
havia
uma declaração de um senador do PSDB, um certo Arthur Virgílio, dizendo
que o
Senhor era, na melhor das hipóteses, idiota, e, na pior, corrupto.
Senhor
Presidente, confesso que fiquei muito chateado com esse senhor. Isso é
falta de
respeito com uma pessoa como o Senhor, um cidadão digno, que lutou toda a
vida
contra preconceitos, uma pessoa correta, um homem preocupado com o povo
brasileiro, em acabar com fome, com a miséria, com o desemprego dos
petistas,
com as desigualdades, preocupado, no seu portentoso avião, em mostrar o
mundo
inteiro para o Senhor e sua Senhora
dizem que ela mandou fazer cem vestidos para todos os presidentes dos
países que o Senhor está sempre visitando verem que a esposa do nosso
amado
Presidente
sabe se vestir, um homem que para facilitar a vida política do Brasil
criou
trinta e cinco secretarias e ministérios, cobrindo, com tão desprendido
gesto,
todos os setores nacionais, um homem que vive preocupado com o boné de
plantão,
que tem de aturar dos arruaceiros do MST, pensar no vinho francês que
vai beber
no jantar eta saudade boa dos tempos da
caninha da roça,
um homem que nunca se afastou das suas raízes populares, tanto que adora
uma
quadrilha, um homem que nunca perdeu a cabeça, perdeu uma parte
do dedinho e conseguiu uma aposentadoria por incapacidade para
trabalhar, o que
sempre me pareceu muito justo, porque uma falange é fundamental para o
exercício de qualquer profissão, até de Presidente da República tem uns loucos, como o tal do Aleijadinho
que amarrava um martelo e um cinzel em suas mãos destruídas e criava
obras
eternas, mas só louco é que faz uma coisa dessas, e o Senhor, de louco
não tem
nada, nem de idiota, como falou o senador despeitado. Ele tem é inveja
do
Senhor, do homem brilhante, gente de fé, sujeito, nunca objeto, que com
sua
inteligência conseguiu que cinqüenta e três milhões de idiotas votassem
no
Senhor.
Paulo de
Faria Pinho
advogado, com pós-graduação na
Fundação Getúlio
Vargas, poeta e escritor.
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